REFORMA DO ENSINO MÉDIO: e agora???
Olá,
Queria falar um pouco
da minha opinião sobre “A Reforma do Ensino Médio”. O que acho legal ou não
nessa proposta do Governo.
Não vou abordar todos os
pontos desta Reforma e, sim, aqueles que eu julgo mais interessantes para
comentar: Itinerários Formativos, Formação técnica profissionalizante e
Escola em tempo integral!
Antes, vamos ver,
resumidamente, o que o MEC nos apresenta sobre A Reforma do Ensino Médio:
A REFORMA DO ENSINO MÉDIO:
Bom, galera, o Ensino Médio
realmente precisa de uma reforma porque do jeito como está hoje é muito
ultrapassado. O aluno tem que aprender 13 disciplinas, sendo que muitas delas
nunca mais farão parte da vida do estudante. Essas disciplinas não interagem
entre si.
O que é mais contraditório é que
na escola, a realidade é esta de ensino e a estrutura do ENEM, que avalia a
aprendizagem do aluno e possibilita que ele, por meio de sua nota, ingresse na
Universidade, é completamente diferente. No ENEM, as questões abordadas são
estruturadas de modo que as disciplinas interagem entre em si e o raciocínio
cobrado se apoia nessa interação.
Como o aluno pode efetivamente fazer
uma boa avaliação se não foi preparado para esse tipo de aprendizado?
Nesse sentido, a Reforma do
Ensino Médio é extremante necessária!!!!
O governo propõe que em 1 ano e
meio os alunos terão um aprendizado comum a todos, cujo currículo será proposto
pela Base
Nacional Comum Curricular que estabelecerá as competências, os objetivos de
aprendizagem e os conhecimentos necessários para a formação geral do aluno.
O
QUE PENSO DISSO: não sabemos nada sobre como será
esse currículo comum a todos os alunos. Se eles continuarem a selecionar
algumas disciplinas que serão ministradas de modo não integrado, não mudará
nada! Creio que a proposta ideal seria que pensassem em eixos de conhecimentos
humanos, biológicos e exatos e que as disciplinas dentro desses eixos
interagissem entre si, por meio da discussão de temas em comum, onde cada disciplina pudesse apresentar seu ponto de vista, sua contribuição sobre o assunto.
ITINERÁRIOS FORMATIVOS:
Quanto aos itinerários formativos que os alunos podem “escolher” nos últimos 1 ano e
meio do Ensino Médio:
I – linguagens e suas tecnologias; II –
matemática e suas tecnologias; III – ciências da natureza e suas tecnologias;
IV – ciências humanas e sociais aplicadas; V – formação técnica e profissional.
O aluno terá que fazer,
obrigatoriamente, os itinerários I e II e poderá escolher um outro itinerário:
III, IV ou V.
O
QUE PENSO DISSO: acho essencial sim o aluno
continuar estudando linguagens e matemática, mas o que faz toda a diferença no
ensino, a meu ver, é o modo como isso será abordado, entende?
Não adianta, por exemplo, o
professor “fazer o aluno engolir goela abaixo” conteúdos que nunca aplicará em
sua vida. Acredito que teria que se pensar numa abordagem diferente. Os alunos
precisam desenvolver, por exemplo, capacidade de análise e compreensão de um
texto, noção de como escrever diferentes gêneros, noção de ortografia, de como
se expressar verbalmente e não precisa ficar “decorando” o que é oração
subordinada substantiva, o que é conjunção e tal. Esse tipo de ensino que é
ultrapassado, percebem? O mesmo digo para conteúdos de matemática que o aluno não
aplica em sua vida.
Sobre ele escolher um itinerário:
acho bem interessante porque, desde bem jovens, já sabemos em qual área temos
maior aptidão para seguir no Ensino Superior e na vida.
Eu, por exemplo, sempre gostei e
fui melhor na área de ciências humanas e sociais, tanto que minha formação
Universitária é nesse campo (Letras e Pedagogia).
As outras áreas só fui obrigada a
aprender (aprender nada rsrs “decorar” e depois “deletar” da minha vida) para
passar no Vestibular. Depois disso, na Universidade e na minha vida
profissional, só tive e tenho contato com ciências humanas e sociais.
Contudo, é necessário que se mude
o modo como algumas Faculdades/Universidades pensam sobre seus vestibulares. A partir
dessa mudança, não pode continuar como é hoje em que no processo do vestibular
sejam cobradas questões de todas as áreas para qualquer curso que se pretende
cursar na Universidade. Não faz sentido continuar desta forma, tendo em vista
que o estudante não terá conhecimento específico de todas as áreas.
Repito, para que haja uma
verdadeira reforma, dentro desses itinerários, devem ser abordados temas em que
haja interação entre as disciplinas e que, de fato, as aulas sejam ministradas
de modo que haja efetiva participação do aluno e que seja focado o
desenvolvimento do raciocínio crítico-reflexivo dele.
Quanto ao aluno poder “escolher”
o itinerário formativo que quer se aprofundar: não é bem assim! A escola pode
escolher qual itinerário formativo irá disponibilizar, ou seja, não significa que
na escola perto da casa do aluno terá disponibilizado o itinerário que ele quer
se aprofundar, por exemplo.
Aí que complica um pouco! Esse aluno
estará disposto a pegar condução para ir numa escola distante? Terá dinheiro
para pagar essa condução?
FORMAÇÃO TÉCNICA E PROFISSIONAL:
O
QUE PENSO DISSO: superinteressante o aluno ter a
oportunidade de fazer um curso técnico para já se inserir no mercado de
trabalho, caso esta seja sua escolha.
Contudo, alguns pontos devem ser
observados sobre esse assunto....
Pensar na estrutura de um curso
técnico não é tão simples assim! Quais cursos o Governo vai disponibilizar? Terá
verba para comprar os equipamentos, montar laboratórios, salas estruturadas
para que esses cursos sejam ministrados?
Quantos alunos serão distribuídos
por turma? Não adianta “socar” 35-40 alunos num curso técnico para um único docente
ensinar o ofício.
Curso técnico profissionalizante
é algo complexo. Não adianta o MEC disponibilizar cursos “meia boca”. O ideal é
que sejam ofertados cursos com reais possibilidades de ingresso no mercado de trabalho e de ascensão profissional e
que a estrutura desses cursos seja boa.
Para isso, tem que se ter verba
(real) para que sejam construídas salas, laboratórios, sejam comprados
equipamentos, material, sejam contratados docentes, monitores. Senão, vai ser
um caos total!!!!
Outro fator que é estranho é que
o Governo não diz que os estudantes terão que fazer parte da carga horária em estágio obrigatório. Como vão aprender,
na prática, o ofício? Como terão experiência sem estágio? Depois do curso
concluído, as empresas vão querer contratar esse estudante sem experiência no
currículo?
ESCOLAS EM TEMPO INTEGRAL:
A reforma propõe que o Ensino
Médio seja em tempo integral e que o Governo irá investir verba para que isso
se efetive.
O
QUE PENSO DISSO: seria algo top o aluno poder se dedicar ao estudo
em tempo integral. MAS, CONTUDO, ENTRETANTO rsrsrsrs tem que se pensar em
alguns pontos para que isso se efetive.
Para o ensino ser integral tem
que haver mais escolas e mais salas de aulas porque onde vão colocar os alunos
que são do período da manhã, período da tarde e período da noite em um mesmo
lugar e ao mesmo tempo?????
O Governo tem mesmo toda essa
verba para construir mais escolas, mais salas de aula, disponibilizar comida de
qualidade, comprar mais equipamentos (carteira, mesa, lousa, armário, etc.) sendo
que muitas escolas e salas que temos hoje estão em estado deplorável?
Sem contar que, muitos alunos
hoje em dia precisam ajudar em casa e trabalham meio período ou o dia todo. E aí?
Se eles ficarem o dia todo na escola, como vão ajudar em casa?
Aí você pode me questionar: mas
Dri... eles ficarão na escola o dia todo para aprender um curso
profissionalizante e depois ingressarem no mercado de trabalho e poderem ajudar
suas famílias financeiramente.
Ok, concordo. Por mim, o
adolescente não deveria trabalhar, deveria sim se dedicar só aos estudos, mas,
infelizmente, não vivenciamos uma realidade em que alguns pais têm bons
empregos a ponto de conseguir sustentar sozinhos, suas famílias.
Para que o ensino integral seja
algo bom, de fato, tem que se pensar em como concretizar isso estruturalmente e
socialmente.
RELATO DE EXPERIÊNCIA:
Quando eu
fiz o Ensino Médio, tinha um projeto com a proposta semelhante à da Reforma. Eu
fiz Magistério (um tipo de curso técnico profissionalizante). Era uma escola
própria para este curso e era ensino integral. Uma parte do currículo (2
primeiros anos) eram disciplinas comuns do Ensino Médio e outra parte eram só
disciplinas específicas do curso técnico (2 últimos anos). Com o diploma,
podíamos dar aula para Ensino Infantil e Ensino Fundamental.
Pontos interessantes
desse projeto: não pagávamos condução para se locomover até a escola e
ganhávamos um salário mínimo para estudar. Tínhamos que fazer estágio
obrigatório para treinar, na prática.
Pontos ruins
desse projeto: não tínhamos alimentação gratuita. Depois de algum tempo, o
MEC determinou que não poderíamos mais dar aulas sem diploma de curso
Superior de Pedagogia. Nos Vestibulares para ingressar em Faculdade/Universidade,
cobravam-se todas as disciplinas do Ensino Médio comum. No entanto, nós que
fizemos o Magistério não tivemos todo o conteúdo do Ensino Médio comum, ou
seja, para conseguir entrar em alguma Faculdade/Universidade tínhamos que
complementar fazendo cursinhos pré-vestibulares.
|
Eram esses pontos que eu queria
compartilhar com você sobre A Reforma do Ensino Médio.
Acho que se deve fazer algo para
mudar a situação atual sim! Mas têm alguns pontos que estão falhos nesta Medida
Provisória e precisa ser revistos para que isso dê certo!!!!
Só espero, do fundo do coração,
que um dia a Educação possa melhorar e que esta Reforma se inicie desde o
Ensino Infantil.
Reformar o topo de um prédio, sem
reformar a base não tem muito sentido, mas só de se falar em Reforma, já é algo
esperançoso!!!!
Comentários
Postar um comentário